Lágrima de preta
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
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Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
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Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes deu-me
o que é costume:
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
(Antonio Gedeão – 1906/1997)
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Rómulo Vasco da Gama de Carvalho (Lisboa, 24 de Novembro de 1906 - Lisboa, 19 de Fevereiro de 1997), português, foi um químico, professor de Físico-Química do ensino secundário no Liceu Pedro Nunes e Liceu Camões, pedagogo, investigador de História da Ciência em Portugal, divulgador da ciência, e poeta sob o pseudónimo de António Gedeão. Pedra Filosofal e Lágrima de Preta são dois dos seus mais célebres poemas.
Meu querido,
ResponderExcluirLágrimas compõem a triilogia dos fluidos sagrados que transformam o homem e também os unifica com ser. Os fluidos sagrados são o suor do esforço, o sangue quase fleuma e as lágrimas.
Aprendi a viver pela combinação destes e tecer a minha vida com esfa mistura.
Parabéns pela sensibilidade.
Niuredini - DonaDinha